quinta-feira, 9 de maio de 2013

O Final da Viagem

Acabei passando 2 noites em Santiago, a segunda noite foi magica. Pude andar mais tarde pelos cantos e becos da parte antiga da cidade no entorno da Catedral. Sao ruas magicas, de repente cheias ou desertas que mudam ao virar uma esquina. Sao misteriosas e carregadas de historias em suas grandes pedras de granito. Ruas totalmente tortas, que cresceram sem nenhum planejamento, ou talvez, planejadas para as pessoas se perderem e apenas algumas se encontrarem. Sei que foi magico...

Visitando um dos varios museus da cidade passei a entender a razao da quantidade de comercio de bugingangas com suas lojinhas nos mais diversos formatos e tamanhos, assim como a quantidade de tabernas e restaurantes em suas diversas formas.

A missa do dia anterior me trouxe de volta para o mundo. Na verdade ainda demorei mas alguns dias para me reconectar ao mundo, diria que ainda estou chegando.

Bom, mas voltando a Santiago, existem duas formas de ir para Madri (acho q tem o trem tambem, mas nao pesquisei):

1) aviao - a tarifa normal custava mais de 200 euros, mas tinha um voo que saia as 22h e que custava 100 euros -- com o risco de ainda cobrarem 75 euros pelo transporte da bike, ja que seria apenas um voo local sem conexao com um internacional;
2) onibus - 57 euros, ja incluindo 10 euros de transporte de bicicletas.

Optei pelo onibus. Mesmo sendo uma viagem longa com varias paradas, 600km e 8 horas de duracao foi otima. Nem vi o tempo passar e ainda foi interessante passar por algumas cidades que passei pedalando. Ah...tem wifi no ônibus!!!

Cheguei a noite em Madri fui a cidade dar uma volta...que diferença...cidade grande...

De manhã parti para pegar o vôo de volta pro Rio... Que viagem longa...a ansiedade faz o tempo parar...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Dia 13 - Santiago de Compostela

Hoje fui a missa dos peregrinos.

Retiro o que disse ontem sobre a cidade. É grande sim e é cheia de turistas e comerciantes de bugingangas sim. E ontem foi um choque porque eu estava sem ver gente e como foi feriado estava mais cheio do que o normal.

Na missa dentro daquela igreja especial, em homenagem aos peregrinos, citando quantos, de qual nacionalidade e de onde sairam os peregrinos. Éramos apenas dois brasileiros que tínhamos chegado naquele dia, partindo de SJPP. Falando da dureza do caminho do sacrifício, da fé e do amor que é preciso ter para completar o caminho e como isso é importante pra toda vida...não tive como não me emocionar e sentir que aquelas palavras estavam direcionadas para mim.

Nunca gostei de uma missa como gostei dessa.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dia 12 - Melide - Santiago - 54km

Dia frio e nublado, mas sem chuva. Fiquei oscilando entre pedalar forte pra chegar logo ou devagar pra apreciar mais o momento. O lance é que não chegava nunca. O que não é a expectativa e a ansiedade da nossa cabeça...

A paisagem predominante do dia foram florestas de eucaliptos. Passamos por várias delas. Bem bonitas e carregadas de energia. O Caminho fica realmente mais cheio em alguns trecho é preciso pedir passagem.

Tinha uma expectativa em relação ao monte do Gozo, de onde se tem a primeira visão da cidade de Santiago. Foi meio decepcionante. Tem um monumento enorme e a visão nem é muito boa. Tudo bem que hoje o dia também não era o dos melhores pra isso.

E a chegada da cidade é esquisita. É uma cidade grande, obviamente a maior de todo Caminho. Logo passa-se em monte de lugares feios antes de chegar nos lugares bonitos. E como essa cidade é grande...tem mais lugares feios... e a praça e a catedral são gigantes e lotada de turistas.

Sei lá, mas a sensação de quem passou por 11 dias pedalando pelo meio do nada passando por simpáticos povoados com pessoas que às vezes nunca foram muito longe dali, é meio estranha. Não deu vontade de sentar na praça e ficar olhando pra aquela igreja. Deu vontade de sair correndo...quase que esqueci de pedir pra fotografar. Cheguei a sair e voltei pra não me arrepender depois.

Enfim, não tenho dúvidas de que valeu a pena e que muita coisa aprendi. Não sei dizer o que, mas tenho certeza que aprendi. Uma delas é de que para pedalar não é suficiente somente saber pedalar. Muitas decisões são preciso ser tomadas pra se otimizar a pedalada e a chegada no seu destino final.

Vou ficar com saudades dos dias que passei só eu e a Querida, inclusive dos momentos mais duros. Aliás os mais duros serão os mais lembrados e os que trarão mais ganho na vida.

Afinal o nosso mundo é muito mais inóspito e duro do que o Caminho.

Valeu Querida!!! E queridos...

Dia 11 - Samos - Melide - 76km

Choveu o dia todo. Variando de fraco a muito forte. O frio oscilou durante o dia, mas no fim do dia estava ensopado por dentro e por fora. Definitivamente não vim equipado corretamente para este frio.

O trajeto foi bem variado com várias pequenas subidas e descidas. Muita lama no caminho, muita mesmo. Coitada da Querida, mas nós combinamos que os nós dois estamos no sacrifício final. Descidas derrapando. Passagens de pedras no meio de córregos. Floresta de carvalhos seculares incríveis. Fiquei abraçado numa árvore dessas imaginando o que ela já viu. Que energia incrível.

Ontem me foi perguntado: "como você está fisicamente?". Sabe de uma coisa...nosso corpo é uma máquina incrível. Cuja manutenção é só seguir uma cartilha relativamente simples. Seguindo o manual, esse corpo aguenta coisas inimagináveis.

O problema fica na cabeça. Essa máquina é de manutenção complexa. E funcionamento mais ainda. Depois de 10 dias pedalando começa a rolar um cansaço mental. Muitas coisas se tornam chatas. É preciso criar distração pra mente. E ainda controlar expectativas e ansiedade. Penso em muitas coisas pro meu final de caminho. Coisas boas, coisas ruins. Coisas que devo fazer ou não. Onde vou ficar. Quando e como vou pra Madrid. A cabeça voa...enquanto que o mais necessário é pedalar e prestar atenção no Caminho sem perder o ritmo.

Como será a emoção de chegar no destino final depois de tanto sacrifício e esforço.

Bom...tomara que o tempo melhore pra chegada em Santiago. Que emoção...